Volte sempre, Portaluppi!


Renato Portaluppi não é mais técnico do Grêmio. Significa o fim uma era de quase 5 anos, repleta de títulos, comemorações e muitas histórias. Renato deixa o clube com 419 jogos, 214 vitórias, 112 empates e 93 derrotas. Foi o trabalho mais longevo da história de um técnico no clube, um tempo de pura entrega ao time.

Renato defendia a equipe a todo custo, como esquecer das célebres frases como "eu confio no meu grupo", "o Grêmio tem o melhor futebol do Brasil" e o "o Grêmio vai decolar". O gaúcho de Guaporé era a mais fiel representação do torcedor na casamata, comemorava os gols, incentivava os jogadores, reclamava do árbitro, provocava o maior rival, entre outras coisas que um torcedor faria.

Sua terceira passagem foi marcada por várias faixas no peito e taças no armário, Renato chegava a reclamar de cansaço pela quantidade de voltas olímpicas rs. Ele mudou tudo, tornou o Grêmio campeão novamente. Antes da chegada do ídolo, nosso grito estava entalado, fazia 15 anos que não ganhávamos competições nacionais. Eis que em 2016 ressurge a figura de Portaluppi, junto daquele que foi seu técnico na conquista mundial, o já falecido e lendário Valdir Espinosa, chegaram com a árdua missão de tirar o time daquela fila de anos sem títulos nacionais. A partir daí, Renato iniciou mais um lindo capítulo em sua história gremista.

No seu primeiro ano, veio a catarse da conquista da Copa do Brasil. No segundo ano, a tão sonhada e obsessiva Libertadores. Depois quase pintou novamente o mundo de azul, naquele duelo emblemático contra o então melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo do Real Madrid, figura da qual Renato sempre fazia questão de dizer que era melhor. Mas não deu, batemos na trave.

No poste também bateu a possibilidade do treinador ser contratado pelo Flamengo. Em 2018, Renato recusou a proposta rubro-negra para continuar vencendo no lugar que pode chamar de casa. O gremismo de Renato estava mais aflorado do que nunca, era impossível deixar a nação tricolor naquele momento.

O curioso é que a decisão da permanência foi tomada em meio a uma importante final de estadual (sim, Gauchão é relevante dependendo do contexto rs). Estávamos há quase uma década sem conquistar o campeonato gaúcho, e nosso maior rival Internacional estabeleceu uma hegemonia no estado. Essa soberania vermelha caiu por terra quando o Grêmio de Renato bateu o Brasil de Pelotas e nos sagramos campeões após oito anos. Definitivamente, Renato veio para quebrar tabus. Isso selou o domínio azul no estado, faltava esse titulo para a gestão Romildo Bolzan reconhecer que quem estava dando as cartas era o Grêmio, e não mais o Inter, que recém tinha subido da segunda divisão no ano em que o tricolor conquistou o tri da América.

Essa ruptura na hegemonia do Rio Grande do Sul reverbera até o momento, o Grêmio ganhou três estaduais consecutivos e busca seu tetracampeonato no ano de 2021. Sem dúvidas, Renato deixou um legado excepcional na aldeia, que teve como trunfo a freguesia colorada. Foram 20 clássicos, ganhou nove e perdeu só três partidas no período, com oito empates. 

Todos esses títulos como treinador e a sua história fantástica como jogador do clube, renderam a Renato uma merecida homenagem, a estátua na Arena do Grêmio. Um pedido do próprio treinador, que apesar de não permanecer na casamata eternamente, sua estátua cumpre o papel de nunca afastar o ídolo de sua casa.

Entretanto, nem só de alegrias foi a relação de Renato com o Grêmio, caso o contrário não estaria escrevendo esse texto após a demissão do treinador. Para entendermos o divórcio profissional entre Grêmio e Renato é preciso voltar ao passado. Em 2016, assumiu o time já com uma filosofia de jogo implantada pelo também ex-jogador e ídolo do clube Roger Machado. Não houve ruptura tática, Renato fez um ou outro ajuste mas não interferiu na estrutura da equipe, que apresentava um futebol muito bonito, de posse de bola ofensiva, com triangulações envolventes e toques rápidos, mas que não era eficiente o bastante para avançar nas competições.

Nesse momento brilha a estrela de Renato, com sua boa leitura de jogo, grande capacidade de mobilizar o vestiário e a habilidade para recuperar jogadores desacreditados (Douglas, Jael, Cícero, Léo Moura).

Um modelo vitorioso, mas que foi perdendo a sua eficácia à medida que os adversários entenderam a sua forma de jogar e neutralizaram os seus pontos fortes, somasse a isso o fato do time perder jogadores de destaque em suas campanhas vitoriosas, e a falta de reposição à altura de figuras como Arthur, Luan, Walace, Everton, Marcelo Grohe. Além disso, outras críticas eram feitas a Renato que foram determinantes para sua saída: a manutenção da titularidade de veteranos que pouco rendiam como Thiago Neves, André, Thaciano, Robinho, Alisson, Paulo Victor; o pouco aproveitamento ou atrito com jogadores da base que eram bem quistos pela torcida como Darlan, Jean Pyerre, Ruan, Ferreira e Pepê; e o negacionismo de não reconhecer em muitos momentos o baixo desempenho da equipe.

Foi assim que nasceram fracassos que arranharam a imagem de Renato como treinador, 5 a 0 para o Flamengo na semifinal da Libertadores de 2019, 4 a 1 para o Santos nas quartas de final da Libertadores de 2020, o futebol pobre nas derrotas para o Palmeiras na final da Copa do Brasil de 2020 e a gota d'agua na eliminação para o Independiente del Valle na pré-Libertadores de 2021.

Se tornou insustentável a permanência do ídolo, para evitar um desgaste maior entre direção, torcida e o treinador, foi tomada a decisão de desligar Renato do cargo. Não era a saída do jeito que esperávamos, quem acompanhou o seu trabalho sabe que ele tinha potencial de chegar no comando da Seleção Brasileira, e que só sairia do Grêmio por esse motivo. Porém, como disse o vice-presidente Claudio Oderich, em entrevista concedida na véspera da demissão: "ciclo de jogadores, treinadores e dirigentes tem um início, meio e fim".

De fato teve fim, mas acredito que não definitivamente, pois o Grêmio sempre foi, é e será o seu verdadeiro lar. Volte sempre, Portaluppi!


Texto: Marcelo Henrique

Fotos: Lucas Uebel / Grêmio FBPA


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